19.11.04
Novos Fanatismos na Europa
O recente escândalo do homicídio do realizador de cinema holandês, Theo Van Gogh, à luz do dia, em plena rua, na cidade de Amsterdão, uma das mais liberais e tolerantes da Europa e do Mundo, às mãos de um fanático islamita, apenas por aquele ter exercido o seu direito de opinião, tão-só por isto e na sua própria terra, dará ainda muito que pensar e obrigar-nos-á a reflectir, com urgência, sobre a maneira de lidar com a proliferação de seitas religiosas, mas, sobretudo, com o proselitismo islâmico na Europa.
Já tínhamos a noção de que não podíamos criticar o islão nos países muçulmanos, mas estávamos convencidos de que o poderíamos fazer dentro de casa, na nossa Europa, liberal e progressiva, culta e tolerante.
A partir de agora, a dúvida é legítima. Teremos provavelmente de voltar a lutar, na Europa, por aquilo que pensávamos ser uma conquista definitiva da civilização ocidental : a liberdade de exprimir e publicar as nossas opiniões, ainda que possam estar erradas.
Por estas e por outras, pode dizer-se da mentalidade ou cultura judaico-cristã o mesmo que se diz da democracia, em relação aos demais regimes políticos.
Com o islão, a convivência revela-se muito difícil. Trata-se de uma mentalidade algo estranha para os europeus, incompatível em muitos aspectos com a nossa cultura ocidental, hoje, francamente aberta, às vezes até de mais, por falta de critério, equiparando o que não é equiparável.
Como repetidamente tenho afirmado, por muitas críticas que façamos à nossa cultura, mentalidade, modo de vida, etc., logo que contactamos com as sociedades do islão percebemos a que distância delas nos encontramos.
A vida actual nas modernas sociedades capitalistas neo-liberais tem, sem dúvida, muito de censurável, mas não sofre comparação com a que se observa nas do islão, onde, até hoje, não vingou um único regime democrático ou quase-democrático, mas onde apenas têm florescido colecções de tiranias ou de oligarquias, mais ou menos repressivas, porém todas grandemente retrógradas e corruptas.
Dizer isto não é xenofobia nenhuma, é exercer a nossa faculdade judicativa, pelo menos enquanto o pudermos fazer.
Com o fortalecimento das comunidades islâmicas na Europa, algo poderá vir a mudar, se não formos capazes de as fazer respeitar o nosso estilo de vida e mentalidade, construídos ao longo de séculos com muita luta e sacrifício.
Como facilmente se comprova, a cultura, muito mais do que qualquer factor biológico, é o que aproxima ou afasta as pessoas umas das outras, independentemente da cor, da origem, do idioma, do estrato social ou da riqueza de cada um.
A influência das ideias no comportamento individual e colectivo das pessoas é igualmente muito determinante. Pelas ideias que perfilhamos, geramos afinidades, nos reconhecemos compatíveis, conciliáveis ou exactamente o contrário disto.
É certo que a base material da nossa vida também influi no nosso modo de nos relacionarmos com o mundo, desde logo porque impõe limites ou permite desafogos e por aqui também se criam afinidades. Porém, não tão fortes como as baseadas na nossa vida espiritual ou cultural.
Basta atentar nas últimas descobertas da genética e no avanço no conhecimento do genoma humano.
A semelhança entre os chamados grupos rácicos é enorme, praticamente idênticos, mas o seu comportamento e as suas atitudes, perante a vida e o mundo, diferem brutalmente, porque sobre eles e acima das suas diferenças físicas imperam as de natureza espiritual ou cultural.
Basta considerar a quase total identidade do património genético dos povos da orla do Mediterrâneo, em contraste com a sua grande diferenciação de índole espiritual, que os fez criar civilizações completamente distintas e, vêmo-lo hoje, provavelmente antagónicas, de um modo, provavelmente também, inconciliável, quiçá de confrontação inevitável.
Cada vez se percebe melhor a importância dos factores culturais na dinâmica de vida dos povos.
Quando esses factores, que geram afinidades ou incompatibilidades, têm, na sua base, uma forte motivação religiosa, de cariz messiânico, a mistura torna-se explosiva e o confronto iminente ou mesmo inevitável, muito mais do que por razões materiais ou económicas, que facilmente se abandonam, por negociação ou cedência recíproca.
Bem sei que estes argumentos não têm demonstração fácil, mas, se observarmos com atenção o que está a acontecer por esse mundo fora, com o acirrar dos ódios, pela acentuação e instigação das diferenças culturais, a pretexto da valorização das especificidades de cada grupo étnico-religioso, vemos que caminhamos para uma situação de alto risco, de iminente confrontação : civil, quando contida no plano político-diplomático, ou, na sua falência, desembocando no plano militar, na guerra, que outra coisa não é, como bem evidenciou Clausewitz, senão a política por outros meios.
É forçoso que nos questionemos sobre alguns pontos fundamentais : como se poderão sustentar unidades políticas amplas, quando as comunidades que as constituem não partilham valores ético-culturais essenciais, sem falar já da base religiosa que os gerou, igualmente diversa e cuja evolução histórica radicalmente os diferenciou ?
A meu ver, este é um dos principais desafios das sociedades modernas: como governar países sobredivididos pelas especificidades dos multi-culturalismos agressivos, em permanente exercício de afirmação, exacerbando as diferenças e destruindo o cerne da cultura que sustentou, até ao presente, as identidades políticas desses mesmos países, assentes na comunhão de crenças e culturas há muito estabilizadas ?
Como reagirão as comunidades mais antigas e estabilizadas a esses choques culturais, de base religiosa, «proselitista», em constante postura reivindicativa, contestatária, militante e desafiadora ?
Veremos se existe habilidade política bastante, para lidar com os presentes problemas, tensões e conflitos inter-comunitários, reconhecidamente explosivos, que, um tanto levianamente, por toda a Europa temos deixado acumular.
Sobre tudo isto, acresce a natureza instável, imprevisível, do homem, que, a todo o momento, pode levá-lo a cometer as maiores irracionalidades, as maiores barbaridades, quando perde a noção das referências éticas que devem enquadrar o seu comportamento.
Sabemos como a Humanidade aprende pouco com a História, na sua ânsia de desbravar o futuro.Ainda há pouco mais de 60 anos o mundo se envolveu numa vasta guerra, de horríveis carnificinas, desencadeadas pelo absoluto desvario Nazi, surgido, paradoxalmente, num dos países mais civilizados e cultos de então.
Não estaremos a chocar o novo ovo da serpente, com a nossa actual política, imoderadamente tolerante e permissiva,para com comunidades animadas de propósitos agressivos, que demonstram tão pouco empenho de integração e convivência com as de acolhimento ?
Pela sua premência, o tema voltará certamente a ser abordado.
Res non verba ( Acção e não palavras. ), porque :
Verba movent, exempla trahunt ( As palavras movem, os exemplos arrastam. )
António Viriato – Lisboa, 18 de Novembro de 2004
Já tínhamos a noção de que não podíamos criticar o islão nos países muçulmanos, mas estávamos convencidos de que o poderíamos fazer dentro de casa, na nossa Europa, liberal e progressiva, culta e tolerante.
A partir de agora, a dúvida é legítima. Teremos provavelmente de voltar a lutar, na Europa, por aquilo que pensávamos ser uma conquista definitiva da civilização ocidental : a liberdade de exprimir e publicar as nossas opiniões, ainda que possam estar erradas.
Por estas e por outras, pode dizer-se da mentalidade ou cultura judaico-cristã o mesmo que se diz da democracia, em relação aos demais regimes políticos.
Com o islão, a convivência revela-se muito difícil. Trata-se de uma mentalidade algo estranha para os europeus, incompatível em muitos aspectos com a nossa cultura ocidental, hoje, francamente aberta, às vezes até de mais, por falta de critério, equiparando o que não é equiparável.
Como repetidamente tenho afirmado, por muitas críticas que façamos à nossa cultura, mentalidade, modo de vida, etc., logo que contactamos com as sociedades do islão percebemos a que distância delas nos encontramos.
A vida actual nas modernas sociedades capitalistas neo-liberais tem, sem dúvida, muito de censurável, mas não sofre comparação com a que se observa nas do islão, onde, até hoje, não vingou um único regime democrático ou quase-democrático, mas onde apenas têm florescido colecções de tiranias ou de oligarquias, mais ou menos repressivas, porém todas grandemente retrógradas e corruptas.
Dizer isto não é xenofobia nenhuma, é exercer a nossa faculdade judicativa, pelo menos enquanto o pudermos fazer.
Com o fortalecimento das comunidades islâmicas na Europa, algo poderá vir a mudar, se não formos capazes de as fazer respeitar o nosso estilo de vida e mentalidade, construídos ao longo de séculos com muita luta e sacrifício.
Como facilmente se comprova, a cultura, muito mais do que qualquer factor biológico, é o que aproxima ou afasta as pessoas umas das outras, independentemente da cor, da origem, do idioma, do estrato social ou da riqueza de cada um.
A influência das ideias no comportamento individual e colectivo das pessoas é igualmente muito determinante. Pelas ideias que perfilhamos, geramos afinidades, nos reconhecemos compatíveis, conciliáveis ou exactamente o contrário disto.
É certo que a base material da nossa vida também influi no nosso modo de nos relacionarmos com o mundo, desde logo porque impõe limites ou permite desafogos e por aqui também se criam afinidades. Porém, não tão fortes como as baseadas na nossa vida espiritual ou cultural.
Basta atentar nas últimas descobertas da genética e no avanço no conhecimento do genoma humano.
A semelhança entre os chamados grupos rácicos é enorme, praticamente idênticos, mas o seu comportamento e as suas atitudes, perante a vida e o mundo, diferem brutalmente, porque sobre eles e acima das suas diferenças físicas imperam as de natureza espiritual ou cultural.
Basta considerar a quase total identidade do património genético dos povos da orla do Mediterrâneo, em contraste com a sua grande diferenciação de índole espiritual, que os fez criar civilizações completamente distintas e, vêmo-lo hoje, provavelmente antagónicas, de um modo, provavelmente também, inconciliável, quiçá de confrontação inevitável.
Cada vez se percebe melhor a importância dos factores culturais na dinâmica de vida dos povos.
Quando esses factores, que geram afinidades ou incompatibilidades, têm, na sua base, uma forte motivação religiosa, de cariz messiânico, a mistura torna-se explosiva e o confronto iminente ou mesmo inevitável, muito mais do que por razões materiais ou económicas, que facilmente se abandonam, por negociação ou cedência recíproca.
Bem sei que estes argumentos não têm demonstração fácil, mas, se observarmos com atenção o que está a acontecer por esse mundo fora, com o acirrar dos ódios, pela acentuação e instigação das diferenças culturais, a pretexto da valorização das especificidades de cada grupo étnico-religioso, vemos que caminhamos para uma situação de alto risco, de iminente confrontação : civil, quando contida no plano político-diplomático, ou, na sua falência, desembocando no plano militar, na guerra, que outra coisa não é, como bem evidenciou Clausewitz, senão a política por outros meios.
É forçoso que nos questionemos sobre alguns pontos fundamentais : como se poderão sustentar unidades políticas amplas, quando as comunidades que as constituem não partilham valores ético-culturais essenciais, sem falar já da base religiosa que os gerou, igualmente diversa e cuja evolução histórica radicalmente os diferenciou ?
A meu ver, este é um dos principais desafios das sociedades modernas: como governar países sobredivididos pelas especificidades dos multi-culturalismos agressivos, em permanente exercício de afirmação, exacerbando as diferenças e destruindo o cerne da cultura que sustentou, até ao presente, as identidades políticas desses mesmos países, assentes na comunhão de crenças e culturas há muito estabilizadas ?
Como reagirão as comunidades mais antigas e estabilizadas a esses choques culturais, de base religiosa, «proselitista», em constante postura reivindicativa, contestatária, militante e desafiadora ?
Veremos se existe habilidade política bastante, para lidar com os presentes problemas, tensões e conflitos inter-comunitários, reconhecidamente explosivos, que, um tanto levianamente, por toda a Europa temos deixado acumular.
Sobre tudo isto, acresce a natureza instável, imprevisível, do homem, que, a todo o momento, pode levá-lo a cometer as maiores irracionalidades, as maiores barbaridades, quando perde a noção das referências éticas que devem enquadrar o seu comportamento.
Sabemos como a Humanidade aprende pouco com a História, na sua ânsia de desbravar o futuro.Ainda há pouco mais de 60 anos o mundo se envolveu numa vasta guerra, de horríveis carnificinas, desencadeadas pelo absoluto desvario Nazi, surgido, paradoxalmente, num dos países mais civilizados e cultos de então.
Não estaremos a chocar o novo ovo da serpente, com a nossa actual política, imoderadamente tolerante e permissiva,para com comunidades animadas de propósitos agressivos, que demonstram tão pouco empenho de integração e convivência com as de acolhimento ?
Pela sua premência, o tema voltará certamente a ser abordado.
Res non verba ( Acção e não palavras. ), porque :
Verba movent, exempla trahunt ( As palavras movem, os exemplos arrastam. )
António Viriato – Lisboa, 18 de Novembro de 2004